Há cenas que assistimos ao longo da vida e que nunca saem de nossa lembrança.
E fazem parte de nosso "cotidiário" para nos lembrar que algumas coisas em que cremos se tornam inúteis se não praticarmos ou exprimirmos.
Há muitos anos atrás (e põe anos nisso), ainda morando no Rio precisei fazer uma das inúmeras viagens em trens da Central (na época um dos horrores de se enfrentar naquela festiva cidade).
E, como sempre, me deparei com duas personagens bastante conhecidas naquele transporte: o "pingente" - aquele que viaja pendurado nas portas, impedindo muitas vezes de fechá-las para maior segurança - e o "crente" com sua Bíblia, a caminho de seu trabalho da tarde em algum ponto de pregação.
Daí, começaram a desenvolver um diálogo meio surreal até para aquela época.
O senhor da Bíblia tentava convencer o moço a sair da porta para evitar que sofresse algum dano irreversível.
Pedia insistentemente que ele se afastasse da porta para evitar danos físicos para si mesmo.
O rapaz, a princípio, tentou levar na brincadeira, pois estava envergonhado porque todo mundo estava de orelha em pé para ver no que ia dar o diálogo, que para ele já estava mexendo com seus nervos jovens, prontos para a descarga elétrica.
O senhor da Bíblia sempre sereno, insistindo com o moço para se afastar da porta.
Comecei a ficar agoniada, pois sempre detestei qualquer altercação, que a gente nunca sabe como acaba.
Até que o senhor crente falou: "Moço, você pode perder uma perna se continuar assim".
O moço o olha bem e cospe a resposta mal educada e tão conhecida:
"E daí? A perna é minha e o senhor não tem nada a ver com isso".
Até hoje me arrepio ao lembrar da resposta daquele sereno e autentico crente:
"Você se engana. Eu tenho tudo a ver com isso. Você é meu semelhante e o que acontece com você atinge a mim também.
Se algo lhe acontece neste trem eu vou sofrer por você do mesmo jeito como se fosse comigo, porque amo você".
Posso dizer que foi uma das raras demonstrações verdadeiras de amor de um ser humano para outro que presenciei em minha vida.
Desse quilate, nunca mais.
Ou o amor morreu ou foi sufocado pela nossa covardia, nosso medo ou nosso desconhecimento do que é o AMOR demonstrado e vivido.
Edna de Vasconcelos e Gisele Vas Fi
Bom dia Gisele!
ResponderExcluirLindo Texto, atos generosos faltam muito atualmente, poucos tem o cuidado ao próximo
Que sua semana seja de muita luz...
Bjks Loiva
Boa noite, Loiva.
ExcluirBom te ver por aqui. E veja como são as coisas.
Minha mãe presenciou o fato décadas antes de escrever sobre ele. E a impactou por décadas.
Semeando o bem, todos seremos abençoados.
Beijos.