Espelhos em águas quietas

                "Cortar o tempo

                Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.
                Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
                Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
                Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente."
                Carlos Drummond de Andrade


                É bem por ai mesmo.
                Meu limite de exaustão chegou com o fim de ano.
                Aliás, um ano muito estranho. Ainda não consigo enxergá-lo como um ano.
                Sei que entre 2011 e 2013 existiu alguma coisa, existiu um ano que recebeu o número 2012.
                Mas simplesmente, sempre que precisei preencher uma data, 2012 pareceu-me surreal, distante, inexistente, estranho...
                Sobrevivi!!!!
                Estranhamente, com todas as lutas, todas as perdas, todo sofrimento e doenças de entes queridos, a paz esteve sempre presente em mim.
                Talvez esteja ai o estranhamento com o 2012.
                Uma situação inusitada e contraria a tudo o que é apregoado e ensinado a todo tempo.
                Em meio à guerra, me apeguei mais e mais à paz.
                E dela não abro mão.
                E descobri que não preciso da guerra para apreciar a paz.
                Preciso apenas de um espelho em águas quietas.
                Quietas como fiquei no final de 2012.
                Talvez eu mesma não tenha me dado conta de que 2012 foi um ano em que pude saborear as minhas vitorias.
                No olho do furacão existe uma calma inexplicável!
                E se é inexplicável, já está explicada.

                Em 2013 não desejo simplesmente que tudo seja diferente, apenas desejo que tudo seja melhor e que possamos olhar com serenidade para este espelho em águas calmas.
                Que possamos aprender a tornar as águas calmas.
                E que, quando isso não for possível e a correnteza quiser nos arrastar, possamos ter a serenidade necessaria para esperar a hora certa de sair do rio. E a usar a força do rio a nosso favor.
                Que nos lembremos que a cada 24 h fechamos um novo ciclo.
                Então vamos nos renovar a cada novo dia e fazer deste um ano realmente melhor!

                                               Gisele Fiaux